Entrevista com o escritor Antonio Luiz Pontes
Por *Jana Lauxen.
Antonio Luiz Pontes é palestrante, professor, Coach, administrador e consultor. Autor de três livros, Vendas e a Dinâmica da Inteligência, Eu fali, e daí? Choque de Gestão e Liderança, e Pensar para Sair do Lugar: Crescimento Pessoal e Profissional, Antonio é, acima de tudo, uma pessoa que acredita nas pessoas, e em seu potencial criativo, racional, intelectual.
Em uma época onde vivemos ilhados na frente da tela de nosso computador ou de nosso celular, envoltos pela falsa sensação de conectividade, e apenas engolindo informações, sem avaliá-las ou questioná-las, Antonio caminha na contramão. E foi caminhando na contramão que conseguiu, através de seus três livros, criar uma obra que valoriza a capacidade de cada um, e de todos nós, de fazer a diferença no mundo através do raciocínio e do movimento. Sim, Antonio acredita que somente aprendendo a pensar e a questionar conseguiremos sair do lugar, e mudar a realidade que nos rodeia. E eu também acredito.

Por isso, fiquei feliz quando o autor aceitou responder uma entrevista, onde falamos sobre tudo: liberdade, movimento, literatura, raciocínio, indivíduo, sociedade. E sobre como o pensamento é a única chave para nossa emancipação intelectual.

Confira abaixo nossa conversa na íntegra.
1. Quem é Antonio Luiz Pontes na visão de Antonio Luiz Pontes?
Um homem que confia ser a integridade e o cultivo de bons valores o principal reflexo que alguém devia enxergar em frente ao espelho de sua vida. Que tem a preocupação com o mundo que estamos deixando para as gerações futuras, e pretende contribuir, naquilo que está ao seu alcance, para que essa realidade seja promissora. Continue..Lendo

2. Seu livro, Pensar para Sair do Lugar, reúne uma série de ensaios sobre o pessoal e o profissional, levando o leitor a refletir sobre assuntos aparentemente corriqueiros – mas que podem fazer a diferença em nosso dia a dia.
De onde surgiu a ideia de escrever um livro abordando esta temática?
Boa parte dos assuntos tratados são vivências que, realmente, não fogem do cotidiano de muita gente. Tenho bastante interesse em transmitir experiências, trocar conhecimentos e informações com o maior número de pessoas, e acredito ser possível instigá-las à reflexão utilizando mecanismos simples, do dia a dia mesmo, que as induzam a uma avaliação ou, tão somente, a uma indagação: e se fosse comigo?
3. O subtítulo de seu livro é Crescimento Pessoal e Profissional. Em sua opinião, é possível haver crescimento profissional sem crescimento pessoal, e vice-versa? Por quê?
Não! Existe um movimento contínuo no círculo que chamo de virtuoso. O aprendizado leva ao treinamento, o treinamento à habilidade, a habilidade à tomada de atitude, e atitude leva à ética. Quando consigo entender a importância da preservação e melhoria dos bons valores sociais, pessoais ou profissionais, parto atrás de novos conhecimentos, treino mais, mais hábil me torno, percebo a melhor atitude, mais a ética me fortalece, e o ciclo tem continuidade. Portanto, o ser humano integral é aquele que evolui, que não fica satisfeito, que não se acomoda, que tem objetivos e alimenta sonhos. Não tem como evoluir um aspecto e outro não. Somos uma unidade.

4. Durante a leitura de sua obra, me deparei com uma frase que me colocou para refletir. Você escreveu que “Pensar é sinônimo de liberdade” – frase com a qual eu concordo plenamente. Neste contexto, você diria que vivemos em uma sociedade livre ou aprisionada? Por quê?
O conceito de vida em sociedade já traz em seu bojo o propósito de limitações. Apesar de imprescindíveis, algumas regras de convivência modelam as ações aguardadas por seus membros. Ao nos sugerir e cobrar condutas, ainda que tenha por finalidade permitir relacionamentos equilibrados, torna-se, em muitas ocasiões, cerceadora da liberdade. Já a possibilidade de pensar é, exclusivamente, libertadora, o mecanismo mais evidente de transformação e evolução, incapaz de ser dominado ou domado. Ainda que, socialmente, possa haver pressões para seu controle, não tem como cerceá-lo, ou fazê-lo prisioneiro do outro. Ele é só nosso, de nossa posse, e de sua adequada utilização depende a felicidade ou a frustração.

5. Em tempos de internet e redes sociais, somos diariamente bombardeados por uma avalanche de informações, de modo que muitas vezes parece nos faltar tempo para decodificar e compreender todas as informações que recebemos em um único dia. Como consequência, somente consumimos; não elaboramos raciocínios próprios. Você acredita que a reflexão é o único mecanismo de transformação da nossa realidade, social e individual?
Acredito que, nos tempos atuais, as pessoas ainda estão se familiarizando com essa enxurrada de informações, e por isso estão um tanto perdidas. Existe a necessidade de peneirar esse imenso volume, para extrair o que de fato é necessário. Até para isso exige-se a reflexão, o uso da inteligência. Não tem como escapar, é de nossa natureza a capacidade de raciocínio, um fator evolutivo indispensável para as pretensões da humanidade. É preciso, simplesmente, utilizá-lo!

6. Durante nossa conversa, você me disse que “Pensar sem uma ação é inútil. Os pensamentos devem estar associados ao movimento”.
Porém, sabemos que muitas pessoas parecem não conseguir tirar suas ideias da teoria e colocá-las em prática. Para você, qual o principal motivo que impede as pessoas de efetivamente realizar o que teorizam?
O pensamento, em si, não transforma. O que transforma é a conexão com a ação, representada pelo movimento. É preciso movimentar a essência e provocar essa ação; caso contrário, nada sai do lugar. Eu compreendo que as pessoas têm reações diferentes, tomam atitudes distintas, carregam suas limitações, seus medos, suas angústias e históricos. Mas não tem jeito. Se não houver a disponibilidade para a ação, nada acontece.

7. Você acredita que vivemos em uma sociedade que desaprendeu a pensar? Caso sim, quais as principais implicações desta condição em nossas vidas, seja enquanto indivíduo, seja enquanto nação?
Acredito que a situação pode se tornar crítica. As facilidades tecnológicas, associadas à natural expansão do nível de informações, fazem com que as pessoas fiquem mais preguiçosas na busca de sua essência. A leitura tem se tornado mais rara; a aceitação do que se recebe, sem contestação ou busca pela verdade, pode sim elevar a tendência de manipulação. Não se checa a informação, e isso indica a possibilidade, pela conveniência, de cometer sérios erros, podendo comprometer o próprio crescimento, e gerar cidadãos de segunda categoria; mais massa de manobra do que precursores de transformações.

8. Sua obra, Pensar para Sair do Lugar – Crescimento Pessoal e Profissional, reúne 27 ensaios abordando os mais diferentes assuntos, permeando questões pessoais com questões profissionais. Como você definiu os temas destes ensaios?
Desde tenra idade sou um observador do cotidiano, dos comportamentos humanos, das manifestações desse comportamento. Tanto socialmente, como profissionalmente, é muita rica essa vivência, potencialmente capaz de elevar o grau de respeito, admiração e reconhecimento pelo muito que se aprende. Eu acredito na gratidão, e uma das formas de demonstrar isso é buscando compartilhar com o maior número de pessoas esse aprendizado que a vida me possibilitou. Sempre tive uma preocupação em levar alguma mensagem aos amigos, principalmente nas datas comemorativas e aniversários. Dispensava cartões impressos e me dedicava a escrever algo direcionado para aquelas pessoas, coletivamente ou individualmente. Isso se tornou um hábito que preservo até os dias atuais. Outro hábito é o de registrar as ocorrências, positivas ou negativas, em rascunhos. Muitos textos são resultados dessas anotações, e são elementos que possibilitam evoluir até o formato de um livro. Especificamente, sobre o “Pensar para Sair do Lugar”, a utilização de textos não sequenciais é uma tentativa de fazer com que o leitor tenha maior independência na leitura, pois cada texto se esgota em si. Assim, pode rapidamente ser absorvido, possibilitando a reflexão imediata, que é o resultado almejado.

9. Após concluir a leitura de seu livro, ficou claro pra mim que você acredita no ser humano, e na sua valorização enquanto indivíduo. No entanto, pessoalmente tenho a impressão de que vivemos em uma época de grande desvalorização das pessoas – seja em seus relacionamentos profissionais, seja em seus relacionamentos pessoais. Você concorda comigo? Em sua opinião, estamos vivendo em uma sociedade automatizada?
Os relacionamentos humanos estão buscando alternativas diante do fato novo, proporcionado pela tecnologia. Olha o paradoxo: a mesma tecnologia que afasta é aquela que aproxima. Hoje existe a oportunidade de cumprimentar amigos que há muito não se via e, por outro lado, mesmo estando com alguém querido, os olhares não se cruzam, estão focados na pequena tela, em relacionamentos superficiais e distanciados. Há um ponto de interrogação inserido nesse cenário, mas eu tenho uma posição otimista. Creio na essência, e essência é emoção, carinho, afeto, amizade, respeito, consideração. Mais dias, menos dias, haverá a percepção do exagero e um retorno às origens. Não tem como deixar de lado os avanços tecnológicos, mas o abandono da essência com certeza não trará qualquer benefício. Isso vai ser percebido; será encontrado um caminho alternativo, o resgate de valores irá acontecer. As pessoas necessitam deles, a humanidade não se sustenta sem eles. É só uma questão de tempo!

10. Como está sendo a recepção do público em relação ao seu livro, Pensar para Sair do Lugar: Crescimento Pessoal e Profissional?
Pelos comentários recebidos, o objetivo principal, de levar à reflexão, tem dado mostras de estar sendo plenamente atingido. Muitos leitores se sentem motivados a rever suas posições, avaliar atitudes, pensar de um jeito diferente ou, o que é mais importante, perceber que existem caminhos alternativos, respostas que não precisam estar prontas, mas que podem ser formuladas de acordo com a própria consciência, de acordo com o ambiente, de acordo com a necessidade social e profissional. Não existe um caminho único, mas uma plataforma gigantesca de opções que precisa, naturalmente, ser avaliada diante dos valores éticos e das pessoas envolvidas. Nesse sentido, minha satisfação permite um sorriso de orelha a orelha.

11. Por que você escreve? A literatura, para você, é lazer ou dever? Transpiração ou inspiração?
Tudo isso, mas, essencialmente, compromisso e relação de amor. Nunca deixei de escrever, desde que aprendi a beleza de poder transmitir ideias, trocar informações, emoções, sentimentos, através da escrita. Escrever é algo que me identifica, e pelo qual sou identificado. É um prazer imenso quando tenho retorno de alguém, que muitas vezes nem conheço, comentando a respeito de um texto inserido num livro, nas redes sociais, ou nas mensagens enviadas. Não importa se elogio ou crítica; o fato de alguém ter despendido um pouco de seu tempo para a leitura é motivo de satisfação pessoal, de muita alegria e gratidão.

12. Você possui alguma rotina específica para escrever? Se sim, qual/quais?
Eu tenho o hábito de anotar algum fato ou acontecimento relevante num rascunho, para evitar o esquecimento. Também quando me ocorre alguma frase, eu procuro anotar, já que teria bastante dificuldade de me lembrar dela após alguns minutos, distraído com outras atividades. O fato de ser uma pessoa disciplinada auxilia bastante, principalmente para determinadas tarefas, como escrever em meu blog (www.alpontes.blogspot.com.br). Tenho um compromisso pessoal de postar o texto até, no máximo, segunda-feira. Isso motiva e, ao mesmo tempo, exige um esforço no sentido de cumprir esse objetivo, independente de qualquer ocorrência.

13. Como a literatura entrou em sua vida? Onde, quando e por que tudo começou?
Não sei precisar o momento exato. Acredito que foi algo natural, um caminho percorrido sem a percepção do tempo, quase um destino. Depois que aprendi a escrever, não mais me separei da escrita. No antigo ginásio, uma professora, a quem dedico as melhores lembranças, me fez gostar ainda mais de ler e escrever. Excelente professora de Português, dona de um método diferenciado de ensino, posso dizer que D. Diva não só consolidou meu entusiasmo, como me incentivou para que continuasse escrevendo. Sou muito grato a ela por ter ampliado meus horizontes, e me fazer amar, ainda mais, a comunicação por meio das palavras.

14. Enquanto leitor, quais escritores você mais admira?
É interessante: o fato de apreciar quem transmite ideias através das palavras faz com que a admiração aconteça sem muita distinção do nome. O importante é o que eu recebo, a forma como recebo, o interesse que me desperta. Às vezes uma indicação, às vezes um presente, às vezes o interesse por um título, e pronto: vem aquele respeito pela forma, pela estrutura, pelo conteúdo. Monteiro Lobato, na infância; Alexandre Dumas, Miguel de Cervantes, Vinicius de Moraes, Hemingway, Dostoiévski, Richard Llewellyn, na adolescência; Rubem Alves, Ricardo Semler, Ken Follett, Stephen King, Stieg Larsson, Philip Roth, Kotler, na vida adulta; são alguns dos nomes que me ocorreram neste momento. Richard Llewellyn, um nome que sempre me foge, escreveu um dos livros mais marcantes de minha vida, “Como era verde meu vale”.

15. E para finalizar, quais são teus planos para o futuro, Antonio?
Bom, continuar a escrever, realizar palestras e treinamentos, e dedicar meu tempo ao que eu acredito e desejo para as gerações futuras: o despertar para a necessidade de resgatar valores, compartilhar conhecimento, amar a vida, respeitar, conviver com as diferenças, promover a justiça, e lutar pela cidadania. Tenho fé nas pessoas. Certeza que o bem tem mais chance de sucesso, que é possível transformar o mundo através dos exemplos e das boas ações. Enfim, pretendo continuar a pensar, pela convicção de que, só assim, saio do lugar.

* Saiba mais sobre o autor e sua obra acessando seu site (www.alppalestras.com.br), seu blog (www.alpontes.blogspot.com.br), e sua página no Facebook (www.facebook.com/antonioluizpontesescritor).

Sobre a entrevistadora:
Jana Lauxen tem 30 anos, é editora, produtora cultural e escritora, autora dos livros Uma Carta por Benjamin (2009) e O Túmulo do Ladrão (2013). Colunista da revista Café Espacial, já publicou em mais de quinze coletâneas, e organizou oito, algumas em parceria com outros escritores. Atualmente trabalha na Editora Os Dez Melhores.
Contato: osdezmelhores@gmail.com
Quer mais Cultura? ( Acesse..AQUI )

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here