Eduardo Guimarães
Redação TDM
No dia 08 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Há oito anos essa data é celebrada na cidade de Rio Claro com o Festival Rock Feminino. Como o nome indica, trata-se de um festival que dá espaço para bandas que tenham garotas entre seus integrantes. Não importa o estilo. Há espaço para tudo, espaço para todas.
Em 2010 o festival chegou à oitava edição com uma programação que durou todo o mês com palestras, debates, exibições de filmes e, claro, muita música. No sábado passado, 20, foi o dia das apresentações das bandas de todo o Brasil que foram selecionadas para o festival.
A Estação
A van com os jornalistas partiu de São Paulo às 10h00 e duas horas mais tarde chegou a Rio Claro. O festival foi realizado na antiga estação ferroviária da cidade. Uma bela construção erguida em 1910 e que hoje é utilizada como um terminal de ônibus. Infelizmente no Brasil não é dado o devido valor ao transporte ferroviário, mas este não é o nosso assunto, então…
Dentro do local foram montados dois palcos, estandes de vendas de CDs e outros itens, barraca para venda de espetinhos e bebidas, espaço para os fãs de videogame mostrarem seus talentos no Guitar Hero, e uma pequena exposição com desenhos em grafite de Marcela França retratando algumas mulheres do Rock, como Pitty, Rita Lee e Amy Lee.
Algumas pessoas já aguardavam do lado de fora antes da abertura dos portões. O ingresso para o Rock Feminino foi trocado por uma caixinha de leite que será doado para instituições de solidariedade.
Garotas e garotos no palco
Quinze bandas foram selecionadas este ano para se apresentarem no sábado. Representantes de diversos estilos e cidades brasileiras mostraram seus trabalhos ao público que lotou a antiga estação.
Ter dois espaços para os shows foi muito positivo. Enquanto uma banda se apresentava no primeiro palco, outro grupo regulava os equipamentos no segundo. Assim o público não precisava esperar a equipe das bandas desmontar e montar todo o equipamento. Bastava ir para o outro palco. E uma banda só começava quando a outra terminava, assim ninguém perdia nada.
O primeiro grupo a tocar foi o quarteto Istha (Rio Claro/SP). A banda apresenta um Metal interessante, mas o problema é que em alguns momentos ela fica tão Pop que acaba descaracterizando o grupo. Talvez o grupo precise se encontrar musicalmente (comunidade no Orkut).
A abertura do palco secundário ficou por conta das meninas da banda de Pop Rock Nota Promissória (São Carlos/SP). Apesar do nome pouco inspirado, as garotas surpreenderam os presentes por serem muito novas e pela segurança no palco. A guitarrista Nathalia, 11 anos, parece ser menor e mais leve que o instrumento que toca. Além de músicas próprias, tocaram covers de Joan Jett, Paramore, Metallica e Iron Maiden… amplo, né? Promissora (www.bandanotapromissoria.com.br).
O quarteto Hell’O Bitch (São Paulo/SP) faz um Rock n’ Roll direto e sem frescuras. Aliás, ao vivo as meninas fazem um som bem mais pesado do que se ouve em www.myspace.com/hellobitchrock.
O público formado principalmente por adolescentes fãs de emocore e pela galera do Metal parece não ter entendido bem a proposta do Subburbia (Curitiba/PR). O grupo faz um disco-punk/electro-rock – ou seja lá como queira chamar – dançante e animado. O vocalista E1000 parece integrante de banda Grunge, mas agita como um Iggy Pop. Bem bacana: www.myspace.com/subburbia.
O Hard Rock com fortes influências dos anos 80 esteve presente no show do Pondera (Porto Alegre/RS). O instrumental do grupo é bem legal, mas a vocalista Priscila Rosa – a propósito, uma graça – é um tanto caricata no palco. A influência de Axl Rose na performance da garota é latente, e isso não é algo exatamente positivo, e o vocal soa um pouco forçado. Talvez seja essa a intenção: www.myspace.com/ponderaoficial.
A sexta banda a se apresentar foi o Nosotros (São Paulo/SP). O grupo trilha o caminho um tanto desgastado do Folk. Você gosta de Los Hermanos e Vanguart? É aí que está o som do Nosotros: www.myspace.com/nosotrosmusica.
Outra banda com estilo bem diferente da maioria do festival é a Babi Jaques e os Sicilianos (Recife/PE). O estilo do grupo é bem peculiar, com influências de Céu e 3naMassa, mas focado no trio bateria/baixo/guitarra. O destaque é a força da bela voz da cantora Babi Jaques. Acesse www.myspace.com/babijaqueseossicilianos e ouça “Manakereki Baby Blues”. Ótima.
Quem esperava um som mais pesado encontrou no show do Hovário (São Paulo/SP). O trio feminino faz Metal com influências de Otep, Chimaira e Korn. Nu Metal e Metalcore que agitou a galera: www.myspace.com/hovarioband.
A Mafalda Morfina (Fortaleza/CE) parecia ser um trio até que a vocalista Luciana Lívia entra no palco correndo, como uma menina brincando. O jeito de menina pode enganar até que ela começa a cantar, mostrando uma voz forte. A performance é contagiante. Ela corre pelo palco, agita a galera, dança ‘moonwalker’ e encarna Serj Tankian no cover de “Aerials”, do System of a Down. A Mafalda foi a primeira banda a ouvir os pedidos de bis da platéia, atendido com “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana. www.myspace.com/mafaldamorfina.
Mais uma banda ‘de casa’ tocou a seguir, o Vernate. Obviamente muitos presentes conheciam as garotas, o que deixou o show animado com boa parte do público cantando junto. A banda é mais uma entre as muitas que fazem algo semelhante ao Strike e afins: www.myspace.com/vernaterock.
Os fãs de Metal Sinfônico e Gothic Metal puderam curtir o Keys of the Light (São Paulo/SP). Covers de Nightwish, Within Temptation e Therion, entre músicas próprias, agitaram pouco o público. O trabalho em estúdio, onde as flautas e outros detalhes são melhores percebidos, deve agradar os fãs do estilo: www.myspace.com/keysofthelight.
O espaço do palco principal ficou lotado de adolescentes com roupas e cabelos coloridos para o show do Fake Number (Lorena/SP). A banda vem crescendo e se tornando uma das mais importantes entre os fãs de Fresno, Nx Zero, Glória e outros do estilo. Durante o show a garotada cantou junto todas as músicas: www.myspace.com/fakenumber.
Heavy Metal com algumas influências Thrash é o som do Sacrificed (Belo Horizonte/MG). A banda é uma das que concorrem no Wacken Battle por Minas Gerais: www.myspace.com/sacrificedbrazil.
Shadowside
Oficialmente, o encerramento da noite de shows seria com a banda Shadowside (Santos/SP – www.myspace.com/shadowsideband). Progressivamente ganhando espaço no cenário Heavy Metal nacional, a banda continua em turnê divulgando o segundo álbum da carreira, “Dare to Dream”, lançado no ano passado.
O público já estava mais reduzido quando o grupo santista subiu ao palco, já que a garotada preferiu ir para casa após o Fake Number, mas os fãs de Heavy Metal de Rio Claro continuavam presentes para ouvir músicas como “Nation Hollow Mind”, “Memories”, “Baby in the Dark” e “Highlight”. Quem estava ali para ouvir Heavy Metal bem feito não saiu decepcionado.
Antes do show a banda conversou rapidamente com a imprensa em uma entrevista coletiva. Aproveitando que estávamos em um evento que celebra a mulher na música, perguntei para a vocalista Dani Nolden se quando ela está no palco ela tem a percepção da sua influência para outras garotas.
Segundo a vocalista, no início ela não pensava nisso, mas o próprio retorno que as garotas dão através dos canais da banda, como MySpace, fizeram ela ter essa percepção. “Espero que eu consiga – e nós todos – incentivar as meninas porque não há falta de espaço, há falta de interesse”.
“Às vezes a mulher acha que não tem competência ou espaço para isso, que tem preconceito. Eu, sinceramente, não sinto preconceito. Desde que começamos a tocar nunca senti que alguém me tratava de forma diferente por ser mulher”.
Sobre o futuro da banda, Dani comentou que até o final deste ano o Shadowside continua na estrada divulgando o disco “Dare to Dream” e só no início de 2011 devem trabalhar em um novo álbum.
Fim de viagem
Depois do Shadowside a banda Belle (Porto Alegre/RS) se apresentou, mas devido ao horário da van que nos traria de volta a São Paulo, não foi possível assistir a apresentação do grupo. A banda teve problemas na estrada e por isso chegou ao local só muito tempo depois do horário previsto inicialmente para o seu show.
O ponto negativo do Rock Feminino foi que, aparentemente, a Lei Antifumo em vigência no Estado de São Paulo ainda não chegou a Rio Claro… Fora isso, parabéns aos organizadores do Rock Feminino e que no próximo ano mais garotas mostrem sua força no palco.
* O jornalista foi ao festival a convite da produção.
Fonte:https://territorio.terra.com.br/shows/?c=887
Fotos da oitava edição do Festival Rock Feminino.