A comemoração dos 50 anos da tradicional Banda de Pau e Corda começou com o lançamento do disco de inéditas “Missão do cantador” (2021) e culmina com turnê homônima adiada por causa da pandemia. Estreou em Belo Horizonte, com casa cheia, circulou por Pernambuco, estado natal do grupo, passou pela Paraíba e agora chega a São Paulo para duas noites no Teatro Sérgio Cardoso. Na capital paulista, contarão com a participação de Zeca Baleiro – um dos convidados do álbum, além de Chico César, Mestre Gennaro e Marcello Rangel. 

Banda apresenta “Missão do Cantador” em SP

As apresentações nos dias 6 e 7 de maio interrompem jejum de aproximadamente 10 anos sem show em São Paulo, cidade que acolheu os então jovens músicos na década de 1970, quando foram contratados pela RCA Victor para o LP de estreia. “Imagine a emoção de receber o convite, aos 17 anos, de uma das maiores gravadoras do país. Nunca tinha ido a São Paulo, nunca tinha andado de avião, passei dias sem dormir direito”, recorda o vocalista Sérgio Andrade.

Foi a primeira de muitas, entre gravações, shows e participações em programas de televisão. Pela RCA, eles lançaram sete LPs sob a meticulosa produção de José Milton, com quem retomaram a parceria no recém-lançado “Missão do cantador”, via Biscoito Fino. As amizades musicais nutridas no período são várias, muitas delas surgidas nos corredores dos estúdios de gravação, onde circulavam artistas renomados e apostas da gravadora.

Sérgio lembra com carinho de quando foram convidados por Rolando Boldrin para dividir o palco em um espetáculo. “Ele disse que era fã da Banda e que mandaria passagens e alugaria um apartamento para a gente ficar em São Paulo durante os ensaios. Confesso que nem acreditei muito na hora, porque era fantástico”, confessa Sérgio. 

O espetáculo “Palavrão” era ainda maior do que eles imaginavam: contava com a direção de Antonio Abujamra e o cenário foi idealizado por Elifas Andreato, dono de algumas das mais elogiadas capas da música popular brasileira e algumas da Banda de Pau e Corda, com “Arruar” (1978) e a própria “Missão do Cantador” – último trabalho do artista falecido recentemente. Foram três meses seguidos em cartaz com o projeto, que tinha um forte cunho social e crítico.

“As músicas da Banda de Pau e Corda, desde o início, são um retrato da nossa vivência e sempre tiveram também um cunho social”, analisa o vocalista Sérgio Andrade. Com estilo próprio, passeiam da urbanidade ao sertão pernambucano, de questões universais a temas regionais, compõem música popular brasileira com referências locais. A fome é um dos assuntos explorados, sem perder o lirismo, no disco novo. 

O álbum reforça a verve poética que uniu jovens artistas nos anos 1970 no intuito de criar uma música popular brasileira com referências às vivências sonoras, imagéticas e existenciais do Nordeste, mas capaz de envolver públicos de todo o Brasil e até de países como China e Argélia. 

Surgida na efervescência cultural do período, inspirada por Mário de Andrade e sua Missão de Pesquisas Folclóricas, a Banda de Pau e Corda ainda enxerga nas culturas populares a fonte para alimentar a alma e transformar a música popular brasileira. Não se limita por ela, mas usa o lirismo e sonoridade sedimentada em flauta, viola e vocais para nos aproximar das cenas de interior – que podem ser de qualquer canto de um Brasil gigante. 

O repertório do espetáculo faz um trançado pelo passado e presente da Banda de Pau e Corda, com o resgate de produções das décadas de 1970 e 1980, além das novidades do recém-lançado “Missão do Cantador”. “O repertório contempla todas as faixas do disco novo, pois a gente não teve possibilidade de lançar presencialmente por causa da pandemia – e tem uma temática social muito forte. A gente procurou também mostrar um apanhado das principais canções nestes 50 anos de existência”, conta Sérgio. 

Estão no setlist as marcantes “Flor d’água” (Roberto Andrade e Waltinho), da trilha sonora da novela “Maria Maria”, da Rede Globo, e Areia (Sérgio Andrade e Waltinho), grande sucesso radiofônico à época. A única música não autoral é o clássico “Lamento sertanejo”, de Gilberto Gil e Dominguinhos – que participou nas faixas “Trens madrugueiros”, do disco “Nossa Dança”.

A passagem do tempo mudou também a composição da banda: atualmente, Sérgio Andrade (vocal), Alexandre Baros (bateria, percussão e vocal), Júlio Rangel (viola e vocal), Sérgio Eduardo (contrabaixo), Yko Brasil (flauta transversal e pífano) e Zé Freire (violão e vocal). Roberto Andrade (bateria) e Paulo Resende (baixo), da formação original, faleceram em 2017.

SERVIÇO

Show “Missão do Cantador”

6 e 7/05 – São Paulo (SP), no Teatro Sérgio Cardoso

Endereço: R. Rui Barbosa, 153 – Bela Vista

Ingressos: R$ 90 e R$ 45 (plateia), R$ 70 e R$ 35 (balcão)

Quer Saber Mais ? (AQUI)

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here