Diretor Zé Celso recebe perdão oficial do Estado e indenização de R$ 570 mil.

Em cerimônia realizada dia 07 de abril, no Teatro Oficina, o diretor Zé Celso Martinez Corrêa recebeu membros da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça para o julgamento especial que lhe concedeu perdão oficial do Estado, concluindo assim seu processo de anistia política. Ficou definido que o diretor receberá indenização de aproximadamente R$ 570 mil e pensão vitalícia no valor de R$ 5 mil.

Durante a Ditadura Militar, Zé Celso foi perseguido politicamente, tendo sido preso, torturado e exilado. O diretor relatou durante a solenidade que sua soltura, após um mês de prisão no DOPS onde sofreu choques elétricos e foi colocado no pau de arara, foi facilitada por blefe do cineasta Glauber Rocha: “Glauber, de Paris, forjou um telegrama assinado pelas celebridades internacionais, como Sofia Loren, Jaqueline Kennedy, Marlon Brandon, enfim, o que havia de mais must na época que acabou tendo importância para minha soltura”.

Para ele, foi importante a cerimônia ter sido realizada no Oficina, um espaço de resistência e “reexistência” poética, por não ser uma forma de teatro unânime. “Muitas pessoas odeiam esse teatro, porque aqui se pratica a liberdade, vive a liberdade, inclusive liberdade do corpo, individual, coletiva, liberdade de contato com o público, se toca nos tabus, se canta os tabus, não se segura bodes, os bodes são cantados.”

A cerimônia da 35ª Caravana da Anistia atendeu tanto aos rituais da Comissão de Anistia – que desde 2001 tem a função de analisar e julgar os requerimentos de anistia de pessoas que foram vítimas de perseguição política entre setembro de 1946 e outubro de 1988 -, como as do próprio Oficina. O evento começou na rua, com os atores e o próprio Zé Celso cantando e conduzindo público, comissão e convidados a subirem até o andar de cima do teatro, onde aconteceu o ritual do lava-pés. Depois, todos descalços foram conduzidos ao andar de baixo, onde sentaram ao redor da grande mesa/palco, cenário do espetáculo “O Banquete”. Atores “vestidos” (entre eles, alguns parcial ou completamente nus) como deuses gregos se instalaram na ponta da mesa, em uma espécie de Olimpo. Após cantarem o hino nacional em ritmo de bossa nova, o relator do requerimento de anistia Prudente Mello leu o processo, que foi votado por seis membros da comissão ali presentes e aprovado por unanimidade. A cerimônia foi seguida pela apresentação do espetáculo “O Banquete”, de Platão.

Em entrevista coletiva ao final, Zé Celso lembrou que a tortura ainda existe no Brasil, nas penitenciárias, e acredita não ser diferente um ato desses ser praticado em um preso político ou em um criminoso, a gravidade é a mesma. Ele também ressaltou a importância da liberdade pro brasileiro e do Estado estar pedindo perdão pelo que fez. “É imperdoável uma pessoa torturar a outra, é imperdoável. Eu não digo que ela deve ser punida, ela deve ser castigada de amor. Ela deve receber uma tortura amorosa muito forte. Fazer elas experimentarem no corpo o gozo da vida, essas pessoas tem que gozar a vida, ai elas não são torturadoras.” Sobre os custos do prejuízos que teve, ele ressaltou o fato da evolução do Oficina ter sido interrompido por causa da ditadura: “A companhia estava conquistando no Brasil a mesma popularidade e a mesma força da música popular, do futebol, de tudo. Destruiu-se isso. Custa muito caro reconstruir tudo isso. E estamos reconstruindo tudo.”

Fonte:https://www.cooperativadeteatro.com.br/newsDetails.do?id=1024

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