O Sesc Belenzinho inaugura no dia 1º de julho (quarta-feira, às 21 horas), a exposição Imaterialidade, que fica em cartaz até o dia 27 de setembro. Com curadoria de Adon Peres e Ligia Canongia, a mostra de arte contemporânea traz diferentes artistas cujos trabalhos evocam a desmaterialização, a sublimação da matéria, ou, artistas que têm o impalpável como elemento principal do trabalho – som, luz, ar, palavra.
A exposição mostra os artistas em questão que lidam com esses dois modos de relacionamento com a obra de arte – a questão da “matéria” ou da “não matéria”, onde pode ou não haver uma materialidade concreta. Adon Peres comenta como o espectador se defrontará com essas duas maneiras de percepção artística: “no primeiro caso, se estabelece uma relação específica sujeito-objeto, na qual prevalece certo distanciamento, diferente do segundo, principalmente nas instalações, onde o espectador é literalmente imerso na atmosfera da obra”.
OS ARTISTAS / AS OBRAS
Anthony McCall – St. Paul’s Cray, Inglaterra, 1946. Vive e trabalha em Nova York.
Seu trabalho opera na fronteira entre cinema, escultura e desenho. É um dos pioneiros na criação de instalações com luz e projeção, tendo iniciado sua carreira em Londres, no final dos anos 1960. Em 1973, morando em Nova York, realiza Linha Descrevendo um Cone, primeira de uma série de obras conhecidas como filmes de luz sólida, onde cria ilusão de formas tridimensionais por meio da projeção de feixes de luz. Em 2003, após afastamento de duas décadas, retoma sua produção artística incorporando as novas tecnologias digitais.
Obra: Você e eu – Horizontal II [You and I – Horizontal II], 2006. Vista da instalação no Instituto de Arte Contemporânea, Villeurbanne, França, 2006. Foto: Blaise Adilon.
Ben Vautier – Nápoles, Itália, 1935. Vive e trabalha em Nice, França.
Sua obra tem início na década de 1950 sob influência de Yves Klein, do Dadaísmo e de Marcel Duchamp. Nos anos de 1960 e 70 é ativo integrante do grupo internacional Fluxus, com o qual compartilha a concepção da arte como experiência e o desejo de desintegrar as fronteiras entre arte e vida. É conhecido pelas suas performances, ações e, sobretudo, pelas provocadoras écritures, quadros com curtas mensagens manuscritas, caracterizadas pelo humor, a irreverência e o questionamento do lugar da arte na sociedade.
Obra 1: Me sinto só [Me siento solo], 2006. Serigrafia, 5/30. 50,5 x 69,5 cm. Cortesia Nara Roesler. Obra 2: É difícil amar [Es difícil amar], 2006. Serigrafia, 5/30. 50,5 x 69,5 cm. Cortesia Nara Roesler. Fotos: Everton Ballardin.
Brígida Baltar – Rio de Janeiro, 1959. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Estuda na Escola de Artes Visuais do Parque Lage nos anos 1980. No início da década de 1990 desenvolve séries de trabalhos com materiais encontrados em seu universo doméstico, tais como a água das goteiras e a poeira dos tijolos da casa em que mora. Com o tempo ela incorpora materiais ainda mais intangíveis, como neblina e orvalho, cuja ação de coleta registra em fotografias e filmes. Sua obra multimídia e experimental se caracteriza, entre outros, pela delicadeza, pela presença do corpo e pela indagação sobre a afetividade da memória.
Obra 1: A coleta da neblina, 2002. 16mm. Still do filme Coletas, 1998-2005. Registro: Roberto Amade. Obra 2: A coleta da neblina, 2002. Mini DV. Still do filme Coletas, 1998-2005. Registro: Ana Herter.
Bruce Nauman – Fort Wayne, EUA, 1941. Vive e trabalha no Novo México.
Em meados da década de 1960, após estudar matemática, física e arte, inicia o desenvolvimento de sua obra multimídia que inclui esculturas, vídeos, instalações, sons, performances, fotografias e interatividade. Jogos de palavras, excesso de sensações, barulhos repetitivos e imagens perturbadoras são alguns dos recursos que utiliza para provocar no espectador, questionamentos sobre questões complexas, tais como a tensão entre a vida e a morte, a própria natureza da arte e o papel do artista.
Obra: Andando de modo exagerado ao redor do perímetro de um quadrado [Walking in an exaggerated manner around the perimeter of a square], 1967/68. Still do filme. Cortesia Electronic Arts Intermix (EAI), Nova Iorque.
Carlito Carvalhosa – São Paulo, 1961. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Em meados dos anos 1980 forma-se em arquitetura na FAU-USP e integra o ateliê Casa 7, onde produz pinturas em grandes formatos, enfatizando o gesto e a matéria pictórica. Na década de 1990, amplia sua pesquisa sobre as propriedades e limites dos materiais, realizando também esculturas com cera, porcelana, gesso, entre outros. A partir dos anos 2000, cria também grandes instalações com materiais diversos como tecidos, luz branca e toras de madeira, que reordenam e transformam o espaço em que se inserem.
Obra: Precaução de contato, 2014. Copos e luzes fluorescentes. Dimensões variáveis. Coleção do artista. Foto: Everton Ballardin.
Ceal Floyer – Paquistão, 1968. Vive e trabalha em Berlim.
A artista, de nacionalidade inglesa, inicia sua produção nos anos 1990, após formar-se no Goldsmiths College, em Londres. Trabalhando basicamente com cinema e instalações, a artista questiona a lógica das situações cotidianas, ao deslocar objetos familiares e banais de seu uso convencional, criando com eles situações inusitadas. Com seu trabalho carregado de humor e de aparente simplicidade, a artista convida o espectador a rever suas percepções e certezas sobre o mundo.
Obra 1: Unfinished [Inacabado], 1995. DVD, DVD player, projetor, pedestal. Dimensões variáveis. © Ceal Floyer, VG Bildkunst, Bonn / Cortesia Lisson Gallery, Londres. Obra 2: Título provisório (escavação) [Working title (digging), 1995. instalação sonora, estéreo: CD player, alto-falantes, amplificador, CD. Dimensões variáveis. © Ceal Floyer, VG Bildkunst, Bonn / Cortesia Lisson Gallery, Londres.
Fabiana de Barros & Michel Favre – São Paulo, 1957 e Genebra, 1957. Vivem e trabalham em São Paulo e Genebra. Fabiana é formada em pintura pela Faap, São Paulo, e cursa pós-graduação na École Supérieure D’art Visuel em Genebra. Em 1991 conhece Michel Favre, fotógrafo e documentarista suíço, também aluno da École, com quem forma, em 1996, a entidade artística FABMIC. Integrando artes plásticas, cinema, fotografia e novas mídias, o trabalho da dupla investiga as múltiplas formas de interação do artista com o público. Além do trabalho coletivo, cada um desenvolve sua obra individualmente.
Obra: ocê está aqui [You are here], 2010-2015. Projeção de vídeo multicanal. Imagem still. © Fabiana de Barros & Michel Favre.
François Morellet – Cholet, França, 1926. Vive e trabalha em Paris e Cholet.
Sua obra inclui pintura, instalações com néon e intervenções urbanas. Nos anos 1940 realiza pinturas e esculturas figurativas. Em visita ao Brasil em 1951, descobre a Arte Concreta, tornando-se entusiasta da abstração geométrica. Em 1961 é um dos fundadores do Grupo de Pesquisa de Arte Visual (GRAV), movimento que defende a autonomia da arte por meio da aproximação com o público. Buscando desmistificar a influência da subjetividade na criação artística, constrói seus trabalhos a partir de regras matemáticas pré-definidas.
Obra: Lamentável Ø 5 m vermelho [Lamentable Ø 5 m rouge], 2005. Vista de exposição. Domaine de Chamarande, França, 2009. © Studio Morellet.
James Turrell – Los Angeles, EUA, 1943. Vive e trabalha em Flagstaff, Arizona.
Desde suas primeiras peças luminosas, em 1966, utiliza a luz como matéria prima de sua obra. Vinda do ambiente, do neon, ou projetada, a luz é sempre, nos trabalhos de Turrell, uma presença material que constrói espaços. O artista é conhecido por seus projetos épicos e monumentais. Desde a década de 1970 trabalha no Roden Crater, projeto de transformação de um vulcão extinto no deserto de Arizona em observatório natural, obra que oferece uma rara possibilidade de experimentar o infinito.
Obra: Raethro green, 1968. Projetor MRI Wire. Copyright & Cortesia Häusler Contemporary München / Zürich. Foto: Florian Holzherr.
José Damasceno – Rio de Janeiro, 1968. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Desde o final dos anos 1980, o artista apresenta esculturas, objetos e desenhos que causam certo estranhamento no espectador. Seja pelo acúmulo de um mesmo objeto ou material, seja pelo deslocamento de seus usos convencionais, ou ainda pelo contraste entre a escala dos objetos e a do espaço, o artista cria esculturas e situações improváveis, absurdas até, colocando-nos frente a algo que desconhecemos, instigando-nos a questionar a lógica e as noções que adquirimos para a compreensão do mundo.
Obra: Pouco a pouco [Poco a poco], 2005. Vinil adesivo. Dimensões variáveis. Vista da instalação The Project, Los Angeles, 2005. Coleção do artista / Cortesia Galeria Fortes Vilaça. Foto: Anthony Cunha.
Keith Sonnier – Mamou, EUA, 1941. Vive e trabalha em Nova York.
No final dos anos 1960 muda-se para Nova York, onde faz parte de um grupo de jovens artistas que questiona o conceito tradicional de escultura, trabalhando com materiais não convencionais como látex, tecido, borracha, bambu e descartes industriais. Na época ganham notoriedade suas esculturas com neon, com as quais constrói desenhos abstratos e coloridos no espaço. Posteriormente, seu raciocínio plástico se expande para ambientes e instalações arquitetônicas luminosas. É um dos pioneiros no uso do vídeo na arte contemporânea.
Obra: Trabalho com prateleiras – Prateleira de quiosque espaçada [Shelf work – spaced kiosk shelf], 1975-2008. Neon, vidro e alumínio. 178 x 265 x 10 cm. Copyright & Cortesia Häusler Contemporary München / Zürich. Foto: Florian Holzherr.
Laura Vinci – São Paulo, 1962. Vive e trabalha em São Paulo
Forma-se em artes plásticas pela Faap em 1987. Inicialmente produz pinturas espessas, sem chassis, riscadas por sulcos verticais. Dessas obras surgem as hastes de ferro tridimensionais que mantendo a verticalidade das pinturas anteriores, criam ritmos no espaço. A partir dos anos 1990, ele realiza grandes esculturas e intervenções espaciais com materiais heterogêneos como pó de mármore, pedra, maçãs e vapor, em que evidencia a transição dos estados da matéria e a metamorfose dos elementos.
Obra: Ainda viva / cacho, 2007. 90 peças de vidro. 250 x 90 cm. Coleção da artista. Foto (detalhe): Nelson Kon.
Marcius Galan – Indianápolis, EUA, 1972. Vive e trabalha em São Paulo.
Forma-se em Artes Plásticas pela Faap, em 1997, época em que inicia sua participação no circuito de arte. Sua obra é constituída por trabalhos muito heterogêneos, tanto pelo uso de suportes variados como fotografia, vídeo, instalação e escultura, quanto pelo resultado formal que apresentam. Tal diversidade, entretanto, é coordenada por algumas premissas e práticas comuns, tais como a desconstrução da noção de espaço e o deslocamento da própria geometria para questionar as certezas de nossa percepção.
Obra: Seção diagonal, 2008. Instalação. Pintura em paredes e teto, cera no piso, filtros de luz, esquadria de madeira. Dimensões variáveis. Coleção do artista / Cortesia Galeria Luisa Strina. Foto: Edouard Fraipont.
Marcos Chaves – Rio de Janeiro, 1961. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Estuda arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Santa Úrsula. Desde o final dos anos 1980, realiza obras que resultam de apropriações, comentários ou deslocamentos precisos e bem humorados de situações cotidianas para o universo artístico. Transitando por diversas mídias como fotografia, vídeo, objeto, instalação, som e palavra, a obra de Chaves aporta novos sentidos àquilo que sempre esteve aí, mas que, pelo costume, deixou de ser percebido.
Obra: Come into the (w)hole, 2002. Vinil adesivo. Vista da instalação na galeria Arte Futura e Companhia, Brasília, DF. Foto: Marcos Chaves.
Paola Junqueira – São Paulo, 1963. Vive e trabalha em Ribeirão Preto.
Nos anos 1990 forma-se na École Superieure d´Art Visuel, em Genebra, cidade onde reside por duas décadas. Seu trabalho se desdobra em performances, instalações, fotografias, desenhos e vídeos e mantém um diálogo com a arte experimental dos anos 1960. Algumas de suas obras partem da realização de uma mesma ação aparentemente simples, como cavar um buraco, em ambientes geográfica e culturalmente diferentes, e por períodos de tempo definidos, para investigar a comunicação da arte com o espaço e a cultura em que se insere.
Obra: De todos os lados, 1994. Haste, tubos de metal e ventiladores. Dimensões variáveis. Coleção da artista. Foto (detalhe): Maurício Froldi.
Paulo Vivacqua – Vitória, 1971. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Após formar-se em Licenciatura Musical pela Universidade do Rio de Janeiro – UniRio, em 1996, o artista inicia sua pesquisa de ampliação dos limites da linguagem musical, passando a elaborar esculturas e objetos que resultam do cruzamento entre os campos visual e sonoro. O artista desloca processos e elementos utilizados na música, como alto-falantes, fios, material acústico, além do som e do silêncio, trazendo-os para o contexto plástico para criar objetos e ambientes onde diversas linguagens se complementam.
Obra: Interpretação, 2012. Partituras, alto-falantes, lâmpadas, cartões e microsystem. Dimensões variáveis. Coleção do artista. Foto: Maria Noujaim.
Ryan Gander – Chester, Inglaterra, 1976. Vive e trabalha em Londres.
A partir dos anos 2000, o artista ganha destaque na cena internacional com uma obra que surpreende pela multiplicidade de formas, ideias e linguagens que assume. Gander realiza conferências, performances, esculturas, livros infantis, invenções, séries de televisão e projetos urbanos, entre outros, produzindo ao mesmo tempo fatos reais e ficções. A teatralidade, o humor, a narrativa e a ausência, presentes nos trabalhos, ressaltam o caráter reflexivo desta obra, que questiona as fronteiras da produção e da percepção da arte na contemporaneidade.
Obra: Ftt, Ft, Ftt, Ftt, Ffttt, Ftt ou algum lugar entre uma representação moderna de como um gesto contemporâneo passou a existir, uma ilustração da fisicalidade de uma discussão entre Theo e Piet acerca do aspecto dinâmico da linha diagonal e a tentativa de produzir um cenário em chroma key para cem cenas cinematográficas [Ftt, Ft, Ftt, Ftt, Ffttt, Ftt, or somewhere between a modern representation of how a contemporary gesture came into being, an illustration of the physicality of an argument between Theo and Piet regarding the dynamic aspect of the diagonal line and attempting to produce a chroma-key set for a hundred cinematic scenes], 2010. Flechas. Dimensões variáveis. © Ryan Gander / Cortesia Lisson Gallery, Londres.
Waltercio Caldas – Rio de Janeiro, 1946. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Em 1964 estuda pintura e desenho com Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. No final da década realiza pequenas maquetes, objetos e desenhos de grande precisão formal que, paradoxalmente, não produzem clarezas, mas enigmas. A compreensão da arte como lugar da dúvida continua presente nas esculturas, instalações, desenhos, livros e obras públicas produzidas até hoje. Os trabalhos de Caldas possibilitam outra relação com o espaço, pois são fluidos; incorporam o ar e a transparência como parte constitutiva deles.
Obra: O ar mais próximo, 1991. Fios de lã. Dimensões variáveis. Vista da exposição “O ar mais próximo”, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, 1993. Foto: Wilton Montenegro.